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Emoção X razão: entenda como tomamos decisões

“Você deve ser mais racional, não se deixe levar tanto pela emoção”. Não sei se você passou pelo mesmo, mas eu já ouvi esta frase por diversas vezes na vida. É muito comum as pessoas acharem que as emoções e a razão podem ser separadas e que a razão é sempre boa, enquanto as emoções, sempre ruins. Uma rápida busca no Google e nos deparamos com títulos que seguem uma linha de raciocínio muito voltada para “Emoção, a vilã da tomada de decisão” ou “Razão x Emoção: líder deve ficar atento para não basear decisões nos sentimentos”, além dos clássicos “20 passos para deixar as emoções de lado e melhorar o seu relacionamento”.

E aí eu te pergunto, se nós realmente fôssemos capazes de deixar de lado toda e qualquer emoção, será que tomaríamos decisões melhores?

A resposta é NÃO!

Sem emoções, nossa capacidade de tomar decisões coerentes fica consideravelmente comprometida. Isto porque as emoções funcionam como um guia, facilitando as escolhas que fazemos. Quer entender um pouco melhor como as nossas emoções interferem no processo de tomada de decisão? Então voltemos a 1848, ano do fatídico acidente de Phineas Gage que, embora seja trágico, acabou contribuindo com avanços significativos para as Neurociências.

O acidente em questão foi descrito por Antonio Damásio, um dos maiores neurocientistas do mundo, em seu livro “O Erro de Descartes” (falando em livros, aqui você encontra uma lista com 8 livros sobre Neuromarketing que são imperdíveis). Damásio analisa o caso de Phineas Gage e descreve, de maneira surpreendente, como a incapacidade de experienciar emoções pode até levar ao conhecimento racional dos fatos, mas em nada nos ajuda a tomar boas decisões.

Phineas Gage era uma pessoa normal, que levava uma vida normal e tinha um trabalho normal na construção civil, até o dia em que sofreu um acidente e teve seu cérebro transpassado por uma barra de ferro demais de um metro de comprimento e quase 3 centímetros de diâmetro. Apesar da gravidade da lesão e dos danos cerebrais causados pelo acidente, Gage não morreu e suas capacidades de falar, andar e pensar racionalmente não foram minimamente afetadas. No entanto, o mesmo não se pode dizer sobre sua personalidade. Gage se tornou uma pessoa arrogante e impaciente com as ordens de superiores. Sabe aquela criança birrenta, que não obedece aos pais dentro do mercado? Gage ficou parecido. Além disso, a lesão comprometeu suas capacidades de planejar o futuro e de tomar decisões vantajosas à sobrevivência.

Para encurtar um pouco o assunto, vamos pular direto para o final da vida do protagonista desse caso, bem explicado por uma frase famosa no meio neurocientífico. No final de sua vida, Gage não era mais Gage, ele estava sem dinheiro, família, amigos e morreu sozinho.

Além deste caso, ao longo de seu livro Damásio analisa diversos pacientes que apresentaram sintomas muito parecidos com os de Phineas Gage, provenientes de lesões em uma região cerebral conhecida como córtex pré-frontal, ou PFC, para facilitar.

O PFC é uma região relacionada a diversos processos cognitivos complexos, como expressão da personalidade, tomada de decisões, moderação de comportamentos socialmente adequados e formação de memórias emocionais. Por isto, essa área cerebral é tão importante para lidarmos com pensamentos conflitantes, definirmos o que é positivo ou negativo e tomarmos boas decisões com base no que imaginamos que será o futuro.

Vou tentar explicar de uma maneira um pouco mais simples. O PCF nos ajuda a atribuir um significado emocional a cada experiência que vivemos, o que facilita muito a tomada de decisão pois, em momentos futuros, esse valor emocional pode ser trazido à tona, nos ajudando a prever se o desfecho de uma situação será positivo ou negativo.

Voltando à pergunta que fiz no começo do texto, se fôssemos capazes de nos livrar completamente de emoções, seria muito difícil julgar opções como boas ou ruins e nossa tomada de decisão seria transformada em um processo desesperadamente neutro. Não há motivos para tentarmos separar a razão das emoções. Na verdade, as emoções são uma parte indispensável da nossa vida racional e são elas que nos ajudam a tomar decisões equilibradas.

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