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Forebrain na mídia I – Coppe faz ponte entre academia e prática de negócios

Jornal Valor Econômico – 04 de Janeiro de 2010

Coppe faz ponte entre academia e prática de negócios

Incubadora: Braço da UFRJ abre espaço a áreas que incluem de neuromarketing a telas multitoque

A tecnologia brasileira está no porto de Gênova, na Itália. Os operadores de guindastes do porto não recebiam treinamento adequado e, por isso, a movimentação da carga era lenta. A decisão dos gestores foi, então, instalar um simulador para melhorar a preparação do pessoal no uso dos equipamentos. Participaram da concorrência empresas alemães e italianas, mas foram os brasileiros da Virtualy os escolhidos para projetar a eletrônica e a mecânica do simulador.

O processo de pesquisa e desenvolvimento foi liderado pelo professor Gerson Cunha, do Laboratório de Métodos Computacionais em Engenharia, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Ele já trabalhava com simulação desde a década de 1980. Quando o produto ganhou mercado, Cunha obteve uma licença sem vencimentos e uma bolsa de incentivo à inovação e montou a Virtualy, em parceria com Marcos Gandier, que atuou por oito anos no centro de treinamento de aviação civil da Varig.

A internacionalização nasceu por meio de um consórcio entre a Universidade de Gênova, na Itália, e o Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia (Coppe). Outro simulador foi contratado para o Porto de Caliari, na Sardenha. A mesma base tecnológica usada nos simuladores portuários já está sendo utilizada no desenvolvimento de produtos para as áreas de aviação, construção civil e mineração. Está em curso uma parceria com a Marinha brasileira.

A Virtualy é uma das empresas que vão de vento em popa na incubadora da Coppe, da própria UFRJ. Um total de 40 companhias já passaram por lá. Hoje, elas são 19. Mauricio Guedes, coordenador da incubadora, informa que no fim de 2009 foram selecionadas cinco novas empresas, de um total 47 candidatas. O processo avaliação se estendeu por quase quatro meses. As empresas passam por duas etapas de análise e entrevistas. As pré-selecionadas fazem um curso de 40 horas sobre plano de negócios. Para ser escolhidas, as candidatas precisam se enquadrar no perfil de empresas inovadoras.

Durante o processo, quinze empresas chegaram a ser selecionadas. “Mas só havia vaga para cinco”, diz Guedes. O critério para o pente fino é a viabilidade econômica e técnica do empreendimento, passando pelo perfil de comportamento dos empreendedores e o potencial de relacionamento com as atividades de pesquisa da Coppe e de outras áreas da universidade. “Não exigimos que as empresas tenham entre os sócios alunos ou ex-alunos, mas esperamos que elas tenham relação com a atividade acadêmica.”

Entre os casos de sucesso de empresas incubadas, Guedes cita exatamente uma companhia que não era liderada por ex-aluno – a Oceansat, especializada em processamento e análise de imagens de satélite. O fundador veio do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), de São José dos Campos (SP). A companhia teve entre os clientes Petrobras, Exxon, Texaco, Shell e El Paso. Foi vendida duas vezes. Na segunda, foi comprada pela Vale, em meados de 2008. Com o negócio, a empresa se transformou em um departamento da mineradora.

Entre as novas empresas selecionadas no fim do ano para se instalar na Ilha do Fundão está a Forebrain. Criada por neurocientistas, a companhia desenvolve pesquisas relacionadas ao chamado neuromarketing. A ideia é estudar o comportamento do consumidor a partir da neurociência. A empresa nasceu no Laboratório de Neurobiologia do Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho, da UFRJ. O pesquisador Billy Nascimento diz que a proposta de criar uma empresa nasceu de uma tese de doutorado.

“Por meio da neurociência é possível estudar de forma mais objetiva como as pessoas se comportam. A partir daí é possível extrapolar para outras áreas e saber, por exemplo, como as pessoas se comportam na tomada de decisões ligadas à economia e o efeito que determinados produtos causam no consumidor. Quando se faz uma pesquisa tradicional com perguntas, a resposta não é necessariamente verdadeira. O neuromarketing mede a reação neurobiológica”, explica Nascimento.

A avaliação do “entrevistado” é feita em um laboratório, onde ele fica de frente para o produto testado. A reação é medida por meio de ressonância magnética funcional. São avaliadas quais regiões do cérebro estão mais ativas e o quanto elas são influenciadas pelo estímulo. Outro método é a medição dos músculos do rosto ou o grau de sudorese da pele.

Nascimento conta que o laboratório Carlos Chagas deu subsídio teórico ao Ministério da Saúde sobre a reação do consumidor frente a um maço de cigarros com as fortes mensagens sobre os efeitos do fumo à saúde. Foi avaliado que tipo de imagem gerava maior aversão. Segundo o pesquisador, esse tipo de teste também identifica reações de bem-estar e emoções positivas a campanhas publicitárias de produtos de consumo. “Coca-Cola, McDonald’s, Ford, Univeler e Procter & Gamble estão consumindo neuromarketing”, afirma.

Outra empresa que está se instalando na incubadora da Coppe é a Confiance Medical. Além de outros dez equipamentos em desenvolvimento, o foco, hoje, é um sistema eletrônico microprocessado que funciona com injeção controlada de dióxido de carbono e é usado na angiografia, procedimento radiológico de visualização do sistema vascular. Ao contrário de outros métodos, o equipamento não causa efeitos nocivos aos rins do paciente, como pode acontecer com a técnica de contraste iodado.

Entre as demais empresas incubadas estão a Nano Select, a ICE e a SIM. Essa última é especializada em consultoria e desenvolvimento de ferramentas computacionais para análise de material, seja ele cerâmico, metal ou compósitos (aqueles em que entram dois ou mais tipos de material).

A Nano Select é apontada pela Coppe como a única empresa no país a desenvolver superfícies seletivas como filmes de alumínio recobertos com camadas metálicas, usados em coletores de energia solar, com alta capacidade de absorção de calor. Segundo informações da Coppe, a tecnologia é mais eficiente que as superfícies de alumínio cobertas por tinta preta fosca, disponíveis no mercado. Além de mais eficientes, o tamanho útil das superfícies seletivas pode tornar o produto mais barato e acessível

Já a ICE desenvolve sistemas multitoque para diferentes superfícies e aplicações a partir do processamento de imagens. Diferentemente das telas de toque, que operam por meio de sensores, a tecnologia funciona a partir de câmeras que captam os toques através do processamento das imagens geradas. Assim, a interação é realizada não apenas com o toque, mas também com outros gestos. A tecnologia reconhece vários usuários simultaneamente.

Atualmente a empresa, formada por alunos do curso de engenharia eletrônica e de computação da UFRJ, desenvolve sistemas para atender o mercado publicitário. A meta, no entanto, é oferecer produtos para segmentos menos explorados, entre eles o de educação.

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